Peça provocativa : "Luteranos: tão ruim para vocês, batistas!" |
Por que escrevo isso? Percebo na atual conjuntura evangélica um prazer por “escandalizar” crentes mais legalistas. Alguns jogam a nossa preciosa liberdade cristã no enfrentamento aos ultraconservadores. É o prazer em si de arrepiar mentes mais sensíveis. Ora, tudo isso vai contra o espírito do Novo Testamento (leia especialmente Romanos 14 e I Coríntios 8).
Por exemplo, se na minha liberdade vou a um show dito “secular", ora, por qual razão preciso anunciar tal fato a todos? É como se eu quisesse provocar os mais “fracos” em um espetáculo que alguns crentes acham como atitude pecaminosa. É uma satisfação meio mórbida. Se, ainda, na minha liberdade bebo bebidas alcoólicas, por que vou convidar outro a beber comigo se sei que esse cristão se escandalizaria com isso?
Não estou dizendo com isso que eu não posso conscientizar as mentes legalistas do seu próprio legalismo, mas isso se dá com ensino paciente e persistente. Não é simplesmente com o choque, o escândalo, o prazer em arrepiar os outros. Ora, vamos lembrar que Cristo também morreu pelos legalistas. A liberdade é boa, mas usada de qualquer maneira é apenas mais uma forma de vaidade.
E será que eu estaria disposto a renunciar a minha própria liberdade em amor ao irmão mais "fraco"?
Gutierres Fernandes Siqueira
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O EVANGELHO E A LEI MOSAICA
“Desviando-se alguns, se entregam às vãs contendas. Querendo ser doutores da lei e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam” (1ª Tm 1.6-7).
Existem líderes que, desconhecendo as regras da hermenêutica, usam a lei mosaica sem conhecer o tempo que deve ser empregada, usam como se estivessem vivendo na época de Moisés. A lei mosaica foi dada por Deus por causa das transgressões do povo hebreu, embora o mandamento fosse santo, bom e justo (cf. Rm 7.12), era inadequado, porque não conseguiu transmitir vida espiritual nem força moral.
No tempo da graça o crente não deve usar como doutrina a lei do Velho Testamento, pois não houve morte do testador, portanto deixou-se de ser usado no sentido doutrinário. Todavia a lei moral que fazia parte da lei, continua a ter vigência, pois ela faz parte da santidade do cristão.
O legalismo é isso, prima por alguma prioridade em detrimento do que é realmente prioritário isto acarreta um grande perigo, pois falsifica o Evangelho de Cristo.
Legalismo na história da teologia, é a teoria de que um homem obtém e merece a sua salvação fazendo boas obras ou obedecendo a lei.
Paulo era zeloso das tradições judaicas, um fariseu e perseguidor dos cristãos, mas após sua conversão passou a combater os prosélitos da lei; usando suas estratégias e muitas vezes procediam como judeu para ganhar os judeus como se vivesse na lei. “Procedi para os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei” (1ª Co 9.20-21).
Sabemos que existem líderes que forçam a exegese bíblica para provar suas teses, sem saber o tempo e a época que foram escritas. Vejamos por exemplo quando Jesus diz: “Passará os céus e a terra, mas minhas Palavras não passarão” (Mt 24.35).
“... minhas palavras não passarão”. Analisando este texto dentro da exegese Jesus se refere ao Seu Evangelho e as Suas profecias; e, nunca a Bíblia num todo.
Todavia os legalistas de hoje interpretam e ensinam erroneamente a Palavra do Senhor dizendo que Jesus cumpriu a lei e que devemos cumpri-la com base em Mt 5.17-18, onde o Senhor diz: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir”.
Porque a lei só deixaria de ter vigência depois de cumprida. Pergunta-se: Qual foi o homem, além de Jesus Cristo, que cumpriu a lei? Não existiu e não existe ninguém que cumpriu a lei, senão Jesus. Note o que Jesus diz no verso 18: “Nem um jota ou um til jamais passará da lei, até que tudo seja cumprido”.
O Senhor Jesus prevê a cessação da validade da lei depois de preenchido o seu propósito. Ele disse: Porque em verdade vos digo “... até que tudo seja cumprido”. A permanência da lei permaneceu até o seu cumprimento por alguém, isto é, por Jesus Cristo, que cumpriu e aboliu a lei.
Sabemos também, através de Paulo, que Cristo nasceu de mulher; e viveu sob a lei, a fim de cumpri-la e, cumprindo-a (Mt 5.17-18), findou-se a lei para justiça, deste modo, pode cravá-la na cruz (cf. Ef 2.13-16), para possibilitar a justificação de todo àquele que crê; o que era impossível à lei (At 13.38-39; Rm 3.23-24) e é possível mediante a fé em Cristo (Rm 5.1).
A Igreja não está obrigada a cumprir as regras do Velho Testamento, pois o Senhor Jesus, através de Sua morte, libertou-nos da maldição da lei. O próprio Filho de Deus ensinou: o que realmente importa na lei são as reedificações de Deus quanto á justiça, á misericórdia e a fé (Mt 23.23; cf. Mq 6.8; Mt 5.17; Rm 10.4).
Os cristãos em Roma tinham dificuldades de distinguir o certo do errado, então Paulo os escreve dizendo:
“Acolhei ao servo que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões. 2 Um crê que tudo pode comer, mas o débil come legumes. 3 Quem come não despreze o que come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus acolheu. 4 Quem és tu que julgas o servo alheio? 5 Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente. 6 Que distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come para o Senhor come porque a Deus, porque dá graça a Deus; e quem não come e dá graças a Deus. 10 Tu, porém, porque julgas teu irmão? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus. 15 Se, por causa de comida, o teu irmão se entristece, já não andas segundo o amor fraternal. Por causa da tua comida, não faças perecer aquele a favor de quem Cristo morreu” (Rm 14.1-6, 10, 15, 20).
Uma das características marcantes do ensino de Paulo é que ele sempre relaciona doutrina e dever, fé e conduta. No texto decorrente ele não apresenta aos seus leitores uma ética pessoal ou individual, mas estabelecer uma nova comunidade que Cristo estabeleceu com Sua morte e ressurreição.
Paulo acreditava que estes irmãos poderiam ser ascetas, irmão que teriam vindo do paganismo. Tal ascetismo poderia explicar a razão por que os fracos se abstinham da carne. Outra possibilidade é que os fracos seriam os legalistas, irmãos judeus (essênios), convertidos ao cristianismo.
Certos crentes de Roma estavam divididos entre si, no tocante a uma questão importante: alguns estavam resolvidos a comer somente legumes, ao passo que outros comiam, além de legumes, todos os demais alimentos, inclusive carne. Em função disto, Paulo dirige-se a ambos com palavras sábias e precisas a respeito de um assunto que os dividia – a ingestão de certos alimentos tidos como imundos. Paulo declara que o ato de comer, em si, não é problema moral, mas a nossa atitude pessoal sobre o que se come, pode levar ao injusto julgamento de uns com os outros.
[...] Segundo o professor Dunn, as tensões em Roma aconteciam “entre aqueles que se consideravam parte de um movimento essencialmente judaico – e conseqüentemente, viam-se obrigados a observar os costumes característicos e distintivos a um judeu – e aqueles que compartilhavam a compreensão de Paulo sobre um evangelho que transcendia a particularidade judaica”. Outra marca era observância do sábado. Assim o comer alimentos impuros e o violar o sábado encontrava-se no mesmo nível como as duas grandes marcas que denotavam a deslealdade com à aliança. Portanto conclui James Dunn, caracterizar Romanos 14-15 como “uma discução de ‘coisas não-essenciais’.... é perder a centralidade e a natureza crucial da questão da auto-compreensão do cristianismo primitivo” [STOTT. P 432].
Um ponto interessante a ser destacado, no texto em estudo, é a diferença entre vários tipos de crentes na igreja em Roma. Isto significa que há, entre os filhos de Deus, diferentes níveis de conhecimento e de fé. Há os crentes meninos, os maduros, os carnais, os espirituais, os fracos, os fortes etc (Ef 4.14; 1ª Co 3.11; 1ª Co 8.11).
A igreja de Roma enfrentava um conflito entre os cristãos fracos e os fortes (1ª Co 8.7). Os fortes são os que conhecem a Palavra de Deus; os fracos ainda não alcançaram o verdadeiro entendimento das coisas espirituais.
Um crê que pode comer de tudo, pois a liberdade que Cristo lhe proporciona libertou-o de escrúpulos desnecessário com relação á comida; já outro, cuja fé é fraca, come apenas legumes. Isso acontece com certeza, não por ele ser vegetariano por princípios ou questões de saúde, mas porque o único jeito de provar ou garantir que ele nunca come carne impura segundo os ensinamentos que recebera da lei.
Como é que esses cristãos devem considerar um ao outro? Aquele que come de tudo (forte) não deve desprezar o que não come (que, em face de seus escrúpulos, é fraco), e aquele que não come de tudo (o fraco) não deve condenar aquele que come (que é forte em virtude de sua libertação).
Um dos problemas nas igrejas de hoje é: “os crentes fortes não suportam os fracos porque estão errados, e os fracos não suportam os fortes por que acham estar certos”.
É importante esclarecer que a “fraqueza” que Paulo refere não é uma franqueza de vontade de caráter, mas de fé; “débil na fé”, em outra tradução diz “fracos na fé”. Paulo procura mostrar que na igreja existem crentes fortes e crentes fracos.
São crentes vulneráveis, sensíveis, cheio de indecisões e escrúpulos. O que farta ao fraco não é força de vontade, mas liberdade de consciência.
A expressão “fraco na fé”, segundo Paulo, “atesta a falta ou incapacidade de compreender o princípio fundamental da fé e da justificação”, ou seja, a imaturidade. Os fracos na fé consideravam a observância e as abstenções de alimentos e boas obras, seriam necessárias para a salvação. Mas na carta aos Gálatas (1.8-9) Paulo emite um anátema solene contra qualquer um que ouse distorcer dessa forma o evangelho da graça.
Alguns achavam que comer carne era pecado, outros não. No tocante ao que comemos não irá afetar a nossa salvação. Paulo procura mostrar aos romanos que existem irmãos que são débeis na fé, porque ainda não receberam um alimento sólido.
Os reformadores do século XVI chamaram essas coisas de adiaphora, “questões de indiferença”, quer se tratasse de costumes e cerimônias, crenças secundárias que não faziam parte do evangelho ou do credo cristão.
A santidade não é algo visível, mas depende em primeiro lugar da conduta e mudança interior. Não se pode avaliar um irmão pela comida ou pelo vestuário.
[...] Não temos, hoje em dia, a mesma necessidade de discernimento. Não devemos exaltar as coisas não essenciais, essencialmente questões de costumes e rituais, ao nível do essencial, fazendo delas testes de ortodoxia e condição para a comunhão. Tampouco podemos subestimar questões teológicas ou morais fundamentais como se elas não importassem ou fossem apenas culturais. Paulo fazia distinção clara entre essas coisas; e nós deveríamos fazer o mesmo [STOTT. P 433].
Quando o homem aceita a Cristo, sente imediatamente a necessidade de crescer no conhecimento da fé que abraçou e de desenvolver-se na salvação conforme nos ordena a Bíblia (Hb 5.11-14). Muitos infelizmente negligenciam a busca pelo crescimento espiritual. E a falta de conhecimento suscita uma infinidade de barreiras que acabam por comprometer o seu crescimento espiritual. O problema crucial é quando estas pessoas conseguem um lugar de destaque na igreja.
O cristão deve agir de acordo com sua própria consciência, que deve estar alinhada com a Palavra e iluminada pelo Espírito Santo.
Paulo não está tentando dissimular ou disfarçar aquilo que esses irmão e irmãs são. Eles são fracos na fé, imaturos, incultos e até equivocados. Mas nem por isso devemos ignorá-los, mas ensiná-los com um alimento sólido para que tenham um amadurecimento na fé. Implica o calor e a bondade que marcam o verdadeiro amor. Aquele que recebe alimentação sólida irá crescer e abandonar as tradições seculares.
“Não, porém, para discutir opiniões”. Convém refletirmos o princípio da aceitação sem discutir assuntos controvertidos. No original “diakriseis” pode significar discussões, debates, discórdia ou julgamento; já “dialogismoi” pode referir-se a opiniões, escrúpulos ou conflitos íntimos e ansiosos da consciência.
Paulo chega a deixar transparecer certo sarcasmo quando justapões: “Não destrua o reino de Deus por causa da comida: “Eu sei e estou persuadido, no Senhor Jesus, de que nenhuma coisa é de si mesma impura, salvo para aquele que assim a considera; para esse é impura. O Reino de Deus não é comida e nem bebida, mas justiça, paz, e alegria no Espírito Santo. Não destrua a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o homem o comer com escândalo” (Rm 14.14, 17, 20).
Para Paulo, nada (que não seja colocado na Palavra como pecado) é imundo em si mesmo (cf Mc 7.14-23; Tt 1.15).
A discussão na igreja de Roma nos dias de Paulo era entre os irmãos que ainda estavam apegados na lei de Moisés. Todavia, nos dias de hoje ainda existem igrejas que se apegam as tradições judaicas como doutrina. São “líderes espirituais” que seu estilo ascético de conduzir a igreja demonstra a falta de humildade e, uma falsa sabedoria que por sua vez provoca discórdias no meio da igreja, destruindo assim o reino de Deus.
Paulo diz que a fé vem pela pregação da Palavra ( Rm 10.17) e sem fé é impossível agradar a Deus. A Palavra acrescenta a nossa fé. É por isto que Paulo escreve aos romanos dizendo: “A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova” (Rm 14.22).
Tudo que você comer, beber ou vestir, vem de Deus e devemos fazer com ações de graça e para engrandecer Sua glória: “Portanto, quer, comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a Glória de Deus” (1ª Co 10.31).
O que o apóstolo desejava, em outras palavras, é que os cristãos romanos não julgassem uns aos outros por causa dessas coisas, mas se aceitassem mutuamente conforme Cristo ensinara. Cristo nos aceita do modo que somos. Paulo ensina que judeus e gentios devem amar uns aos outros, como também Cristo nos amou (Rm 15.7).
Somos imperfeitos. Se desejarmos, de fato, crescer e alcançar a perfeição exigida pela Palavra de Deus devemos acrescentar diariamente á nossa fé a virtude, e á virtude o conhecimento (2ª Pe 1.5).
Ora, se ainda não chegamos á estatura de varões perfeitos, como poderemos julgar nossos irmãos por causa de coisas insignificantes como acontecia os crentes romanos?
Somos membros de uma família. Como filhos de Deus, devemos cuidar uns dos outros e nos amarmos com amor que nos concede o Pai (1ª Jo 3.1). A Bíblia nos ensina que somos um só corpo: o corpo de Cristo (1ª Co 12.27) que está sendo edificado (Ef 4.12-15). Portanto acima de nossos direitos e desejos está o bem comum, o cuidado dos outros e o crescimento da Igreja do Senhor.
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