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O Jesus Histórico

Introdução: Nas últimas décadas, houve um aumento significante de pessoas que questionam a veracidade dos Evangelhos, e se Jesus Cristo realmente existiu, ou se é apenas um “conto religioso” para manipular as massas. Os mesmos questionadores desqualificam a Bíblia como livro divinamente inspirado, e os relatos dela como verdades históricas. Neste artigo, haverá um esclarecimento sobre esse Jesus, se realmente existiu um homem com esse nome, que fez milagres e viveu naquela época descrita nos Evangelhos, e se há relatos extra bíblicos sobre a sua pessoa e o movimento causado por Ele naquela sociedade.

Cornélio Tácito

Cornélio Tácito é reconhecido pela história como governador da Ásia e historiador. Robert E. Van Voorst o considera como o maior historiador Romano, embora não se saiba muito sobre sua família, cidade de nascimento e ocasião da morte. (VOORST, Robert E. Jesus outside the New Testament: An introduction to the ancient evidence. Eedermnans, 2000, p.39). Ele escreveu um livro chamado Histórias no qual trata dos eventos e acontecimentos romanos entre 69-96dC, e é fonte de muitos dos acontecimentos de Galba, Otho, Vitélio, Vespasiano, Tito e Domiciniano. Esse livro teria sido escrito em 20 diferentes volumes dos quais apenas os quatro primeiros sobreviveram juntamente com fragmentos do quinto volume.
Seu trabalho que nos chama a atenção é chamado Anais, seu último e incompleto trabalho de registro histórico. Originalmente esse livro foi escrito em trinta diferentes livros, e embora tenha sido escrito após o livro Histórias, trata de assuntos históricos anteriores a ele. Pouquíssimas cópias desse livro subsistiram até nossos dias, sendo que uma cópia encontra-se no monastério beneditino da Abadia de Corvey e uma segunda cópia encontra-se em outro mosteiro beneditino em Monte Cassino.

Nesse mesmo livro encontramos uma citação interessante de Tácito sobre os cristãos:

“Mas nem todo o socorro que um pessoa poderia ter prestado, nem todas as recompensas que um príncipe poderia ter dado, nem todos os sacrifícios que puderam ser feitos aos deuses, permitiram que Nero se visse livre da infâmia da suspeita de ter ordenado o grande incêndio, o incêndio de Roma. De modo que, para acabar com os rumores, acusou falsamente as pessoas comumente chamadas de cristãs, que eram odiadas por suas atrocidades, e as puniu com as mais terríveis torturas. Christus, o que deu origem ao nome cristão, foi condenado à extrema punição [i.e crucificação] por Pôncio Pilatos, durante o reinado de Tibério; mas, reprimida por algum tempo, a superstição perniciosa irrompeu novamente, não apenas em toda a Judéia, onde o problema teve início, mas também em toda a cidade de Roma” – (TACITUS, Cornelius, Annales ab excesso div August. Charles Dennis Fisher, Clarendon Press, Oxford, 1906)

Dois detalhes são importantes de serem reconhecidos: (1) o termo que Tácito usa para se referir aos cristãos, provavelmente foi mal escrito, pois em latim o texto traz a expressão “chrestianos” e que posteriormente tenha sido alterado para “cristianos”, ou seja cristãos. (2) O nome Christus é foi vertido em latim apenas para demonstrar que Tácito tinha uma informação clara sobre o grupo de cristãos, sobre quem escrevia.

Como acontece com todas as referências históricas diretas a respeito de Cristo, os críticos questionam a autenticidade dessa citação, afinal, é por demais similar as informações que encontramos nos evangelho canônicos. Voorst atesta alguns trabalhos críticos sobre o texto de Tácito, que questionam a veracidade dessa expressão: P. Corneli Tacit, Annalim Libri de F. Romer; Cornelios Tacitus, Annales de K. Wellesley e Tacite, Annales livres de P Wuilleumier. Entre as declarações encontramos a afirmação de que existe um problema textual na descrição da morte que Jesus sofreu, se foi apenas uma condenação, ou se foi crucificação. O texto de Charles Dennis Fisher que usamos aqui, expressa apenas a punição extrema, o que sugere a condenação à morte romana, que normalmente seria por crucificação, entretanto, é possível que o próprio termo não tenha sido empregado por Tácito, como procuramos demonstrar acima.

Entretanto, independente desse problema textual, o conceito claro da morte de Cristo por Pilatos no período de Tibério ainda é compatível com a descrição das escrituras. Vale a pena ainda ser lembrado que ele se refere a Cristo como um nome pessoal, o que confirma a tendência iniciada no Novo Testamento de referir-se a Jesus Cristo, por Cristo.

É ainda importante demonstrar que na visão de Tácito, Cristo é o originador de um grupo de pessoas chamadas cristãos, ou seja, Ele é o fundador do movimento religiosos que leva o seu nome. Mais uma declaração compatível com aquilo que conhecemos nas escrituras.

Porém, precisamos fazer uma pergunta interessante nesse ponto: Não seria essa descrição de Tácito, uma alteração textual tardia promovida por cristãos? Essa é uma pergunta feita pelos críticos das fontes históricas de Jesus Cristo e merece nossa atenção.

A resposta que damos a essa pergunta é não, por dois motivos: (1) Se um cristão fosse adulterar um texto, certamente suprimiria as expressões sobre o ódio romano contra eles, ou o fato de que são considerados como uma superstição perniciosa; (2) Os pais da igreja não fizeram uso desse material de Tácito em nenhum lugar, o que sugere que não era um material de interesse cristão, especialmente nos primeiro séculos do cristianismo, que não enfrentavam dificuldades com o tema da historicidade de Cristo. Ou seja, é bem provável que o conteúdo dessa citação fornecida por Tácito não fazia parte da agenda apologética dos cristãos primitivos e, portanto, não estaria a sua disposição para adulteração.

Falando da importância dessa citação Yamouchi atesta:
“Trata-se de um depoimento importante da parte de uma testemunha que não simpatiza com o sucesso e com a difusão do cristianismo, baseado em uma personagem histórica, Jesus, crucificado por ordem de Pôncio Pilatos” – (STROBEL, Lee, Em defesa de Cristo,  Vida, 1998, 108)

Gaio Suetônio Tranquilo

Gaio Suetônio Tranquilo, foi um historiador romano que também deve ser lembrado na pesquisa sobre a historicidade de Cristo. Gary Habermas em seu livro The Historical Jesus, afirma que “pouco se sabe sobre ele, exceto que ele era o secretário chefe do Imperador Adriano (117-138 dC) e que tinha acesso aos registros imperiais” (HABERMAS, Gary, Historical Jesus, College Press, 1996; p.190).

Um dado interessante sobre Suetônio, é que ele desenvolveu uma amizade com Plínio o Jovem, que o descreve como um homem “quieto e estudioso, um homem dedicado a seus estudos”. Provavelmente em função desse relacionamento, que Suetônio recebeu favor de Trajano, de quem recebeu uma propriedade na Itália, e de Adriano, a quem serviu como secretário chefe.

Suetônio ocupa um lugar importante na história dos historiadores em função de suas biografias sobre doze Imperadores Romanos, de Júlio César a Domiciano, obra denominada ‘De Vita Caesarum’, escrita provavelmente durante o período de Adriano. Nessa mesma obra encontramos ao menos duas citações que nos interessam:

“Como os judeus, por instigação de Chrestus, estivessem constantemente provocando distúrbios, ele [Claudio] os expulsou de Roma” – (MACDOWELL, Josh, Evidências que exigem um veredito, Cadeia, 1992, p.106)

Nessa citação encontramos a expressão “Chrestus”, o que MacDowell notifica como uma “outra forma de escrever Christus”, a versão latina do nome grego para Cristo, do mesmo modo que quase todos os comentaristas dessa expressão (cf. Habermas, Voorst, Geisler). Essa explicação é provavelmente proveniente do trabalho de Paulus Osorius em History against pagans 7.6, que apresenta uma variante textual para o mesmo trecho, substituindo o termo “Chrestus” por “Christus”. Entretanto, Voorst nos lembra que a leitura mais difícil, que nesse caso é aquela primeiramente apresentada, é provavelmente a verdadeira (VOORST, Robert E. Jesus outside the New Testament: An introduction to the ancient evidence. Eedermnans, 2000, p.30).

A autenticidade da citação é plausível, se realmente faz referência a Cristo, em função de dois detalhes importantes: (1) Dificilmente um cristão não colocaria Cristo em Roma por volta do ano 49; e (2) certamente não ousaria chama-lo de causador de distúrbios. Também é importante notar que a fonte de Suetônio não é um cristão, pois seria difícil pensar que um cristão soletrasse equivocadamente o nome do seu Salvador.

Entretanto, a pergunta é mais importante é: Suetônio realmente fala de Cristo? A pergunta nasce no reconhecimento que o nome usado por Suetônio também era conhecido como um nome greco-romano, além do fato que parece estranho que Cristo estivesse em Roma, por volta do ano 49 dC. Entretanto, a maioria dos historicistas parece concordar que nessa citação encontra-se uma referência a Cristo, como o próprio ateu Andrew Norman Wilson atestou: “Apenas o mais perversos dos acadêmicos duvidaria que Chrestus é Cristo” (WILSON, A.N, Paul: The mind of the Apostle, Norton, 1997, pp.104; IN: VOORST, Robert E. Jesus outside the New Testament: An introduction to the ancient evidence. Eedermnans, 2000, p.32). Contudo, essa convicção de Wilson tem fundamento? Acreditamos que sim.

Primeiro, a sentença latina que de onde se traduz essa frase é significativa: “Iudaeos (Os judeus) impulsore (instigação) Chresto assidue (sobre) tumultuantis (causam distúrbios) Roma expulit (foram expulsos)”. O termo latino “impulsore” não deve ser traduzido como instigação, como vemos na tradução de MacDowell, mas como instigador, em função de sua relação apositiva com o substantivo Chresto com o qual concorda em gênero, número e caso. Portanto, a descrição não parece se referir a uma pessoa em si, mas a um título, que provavelmente Suetônio teria ouvido sem realmente conhecer Outro detalhe que merece nossa atenção é que a grafia aqui é muito parecida com a de Tácito, outro escritor latino.

Segundo, não era incomum que o nome tanto dos cristãos como de Cristo fosse escrito de maneira equivocada no segundo século. Quem nos informa isso é Tertuliano quando discursa sobre o ódio contra os cristãos, que chega a ser considerado um nome criminoso. Feita essa declaração, Tertuliano afirma:

“Mas, cristãos, até onde se refere ao significado do termo, é derivado do ungido. Isso mesmo, e mesmo quando é erroneamente pronunciado por você como ‘Chrestianus’ (por que você nem mesmo sabe exatamente o nome que odeia), ele vem cheio de ternura e bondade. Portanto, você odeia inocentes, com um nome sem culpa” (Tertuliano,Apology, Cap. III; IN: ROBERTS, Alexander, DONALDSON, James, Ante-Nicene Fathers, VOL 3, p.20).

Considerando que era historicamente comum entre os falantes de latim que se confundisse a pronúncia do nome dos cristãos, não é estranho pensar que o mesmo equívoco tenha sido cometido por Suetônio. Entretanto, Tertuliano não é o único a lembrar desse fato, Lactantius também afirma:

“Mas, apesar de Seu nome, que o supremo Pai deu a Ele desde o princípio, não seja conhecido senão por Ele mesmo, ainda assim ele tem um nome entre os anjos e outro entre os homens, desde que é chamado de Jesus. Mas, Cristo não é um nome próprio, mas um título de Seu poder e domínio; pois assim é que os judeus estavam acostumados a chamar seus reis. Mas o significado desse nome deve ser declarado, em função do erro de ignorantes, que ao mudar uma letra, estão acostumados a chama-lo de Chrestus” (Lactantius, The Divine Institutes, Cap. VIII; IN: ROBERTS, Alexander, DONALDSON, James, Ante-Nicene Fathers, VOL 7, p.106).

Portanto, fica evidente que o equívoco encontrado em Suetônio não era incomum e incomodava os cristãos primitivos.

Terceiro, embora o nome Chrestus pudesse ser comum na cultura greco-romana, não é encontrada entre os judeus em Roma naquele período, de acordo com o que se conhece das inscrições das catacumbas e outros documentos. Sobre isso, D. Noy atesta que essa ausência é baseada no fato de que tal nome era aplicado normalmente a escravos, o que teria causado certa repulsa nos judeus (NOY, D,Jewish Inscriptions of Western Europe, Vol.2 The City of Rome, Cambridge University Press, 1995).

Por fim, devemos considera ainda uma questão: Se Suetônio se refere a Cristo, não seria estranho pensar que Cristo estivesse pessoalmente em Roma, incitando uma rebelião contra Roma? A resposta a essa pergunta é na verdade não. Se a referência é realmente feita a Cristo, como um título e não como uma pessoa, não era necessário que Ele estivesse por lá, além do mais, essa declaração pode corroborar a declaração de Lucas de que “Claudio tinha mandado que todos os judeus saíssem de Roma” (At.18.2). Sobre isso, Geisler atesta:

“Suetônio ao escrever muitos anos mais tarde, não estava na posição de saber se os tumultos eram provocados por Chrestus ou pelos judeus contra seus seguidores. De qualquer forma, Cláudio ficou aborrecido o suficiente para expulsar todos os judeus da cidade (inclusive os companheiros de Paulo, Áquila e Priscila) em 49” (GEISLER, Norman, Enciclopédia de Apologética – Vida 2002, p.449).

Já a segunda declaração de Suetônio é menos controversa: 

“Nero infligiu castigo aos cristãos, um grupo de pessoas dadas a uma superstição nova e maléfica” (MACDOWELL, Josh, Evidências que exigem um veredito, Cadeia, 1992, p.106).
É provável que essa nova superstição maléfica seja a pregação primitiva a respeito da ressurreição de Cristo.

E o que aprendemos com Suetônio a respeito da historicidade de Cristo? Primeiro, ele relaciona a expulsão dos judeus de Roma, e que também atesta de que Cristo é que incitou os judeus a causar distúrbios em Roma, além de concordar com Tácito com relação ao conceito que a fé cristã tinha em face aos romanos e além do uso normal do termo cristão para se referir a essa fé.

Flávio Josefo

Flávio Josefo é considerado como um dos maiores historiadores judeus de sua época, e além de escrever sobre a História dos Judeus e suas guerras, também escreveu sua autobiografia, na qual se descreve como filho de Matias o sacerdote judaico, nascido em Jerusalém, instruído pela torá e adepto do farisaísmo (JOSEFO, Flávio, História dos Judeus – CPAD, 2000, p.476-495). O seu testemunho é importante, pois é provavelmente o único relato sobrevivente de uma testemunha ocular da destruição de Jerusalém.
Josefo é considerado como um revolucionário judeu que rendeu-se à supremacia romana trocando o suicídio pela lealdade a Roma. Por sua demonstração de lealdade, Vespasiano não apenas o recebeu como cidadão romano, mas o patrocinou como historiador.

No seu livro Antiguidade dos Judeus, que é normalmente datado na década de 90dC tem duas citações interessantes. A primeira faz clara referência a Tiago “irmão de Jesus chamado Cristo” (GEISLER, Norman, Não tenho fé suficiente para ser ateu – Vida, 2006, p.227), veja:

“Anano, um dos que nós falamos agora, era homem ousado e empreender, da seita dos saduceus, que, como dissemos, são os mais severos de todos os judeus e os mais rigorosos no julgamento. Ele aproveitou o tempo da morte de Festo, e Albino ainda não havia chegado, para reunir um conselho diante do qual fez comparecer Tiago, irmão de Jesus chamado Cristo, e alguns outros; acusou-os de terem desobedecido às leis e os condenou ao apedrejamento. Esse ato desagradou muito a todos os habitantes de Jerusalém, que eram piedosos e tinham verdadeiro amor pela observância das nossas leis” – (JOSEFO, Flavio, História dos Judeus – CPAD, 2000, p.465)

Dois fatos são interessantes nessa citação: (1) Confirma uma clara declaração das escrituras: Jesus tinha um irmão chamado Tiago (Gl.1.19); (2) Ele era reconhecido como Cristo, outra afirmação clara das escrituras (Mt.16.16).

A segunda declaração de Josefo a respeito de Jesus é ainda mais explícita e por isso, muito controversa. Pouco antes da declaração supracitada, ele também afirma:

“Nesse mesmo tempo apareceu Jesus, que era um homem sábio, se todavia devemos considera-lo simplesmente como um homem, tanto suas obras eram admiráveis. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por muitos judeus, mas mesmo por muitos gentios. Ele era o Cristo. Os mais ilustres da nossa nação acusaram-no perante Pilatos e ele fê-lo crucificar. Os que o haviam amado durante a vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos profetas o tinham predito e que ele faria muitos outros milagres. É dele que os cristãos, que vemos ainda hoje, tiraram seu nome” – (JOSEFO, Flávio, História dos Judeus – CPAD, 2000, p.418)

Essa citação tem sido criticada como sendo impossível de ter sido proferida por um judeu-romano escrevendo sobre a história dos judeus. Normalmente apela-se par ao fato de que o texto acima é fruto de uma corrupção cristão tardia, especialmente pelo fato de que Orígenes (185-253dC) atesta que Josefo não aceitava a Messianidade de Jesus. Entretanto, essa declaração não é inteiramente verdadeira, observe a declaração de Orígenes:

“Tamanha era a reputação de Tiago entre as pessoas consideradas justas, que Flávio Josefo, que escreveu Antiguidade dos Judeus em vinte livros, quando ansiava por apresentar a causa pela qual o povo teria sofrido grandes infortúnios que até mesmo o tempo fora destruído, afirma que essas coisas aconteceram com eles de acordo com a Ira de Deus em consequência das coisas que eles se atreveram a fazer contra Tiago o irmão de Jesus que é chamado Cristo. E o que é fantástico nisso é que, apesar de não aceitar Jesus como Cristo, ele deu testemunho da justiça de Tiago” – (Orígenes, Origen’s Commentarary on Matthew, IN: ROBERTS, Alexander, DONALDSON, James, Ante-Nicene Fathers, VOL 9, p.424)

Considerando o fato de que Orígenes atesta que Josefo o chama de Cristo (como vimos que o faz quando fala sobre Tiago), embora não o considerasse como tal, não é impossível que a citação seja de fato verdadeira. Porém, devemos reconhecer que algumas das declarações desse texto atribuído a Josefo parecem por demais cristãs para serem de um fariseu, e entendemos que não é à toa que tenha sido considerada uma interpolação.

Edwin Yamauchi, professor emérito de história na Universidade de Miami, comenta essa citação de Josefo e explica que é possível perceber onde estão as interpolações, ou supostas alterações cristãs tardias. Ele argumenta que era incomum para um cristão referir-se a Jesus Cristo apenas como um homem sábio, o que sugere que o texto nesse caso é de Josefo. Por outro lado, parece improvável que um judeu sugeriria que ele não era simplesmente um homem. Nesse caso, Yamauchi atesta que esse é um possível caso de interpolação cristã tardia. Sobre a expressão “Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por muitos judeus, mas mesmo por muitos gentios”, Yamauchi defende que está em conformidade com o estilo e vocabulário de Josefo, mas a conclusão “Ele era o Cristo” parece direta demais para um judeu (STROBEL, Lee, Em defesa de Cristo,  Vida, 1998, 104).

Contudo, ainda que tal citação de Josefo possa ser tomada com algumas ressalvas, é importante lembrar que uma versão árabe do texto de Josefo no mesmo trecho, que embora tenha as partes mais criticadas ausentes, apresenta aspectos interessantes sobre Cristo, observe:

“Nessa época havia um homem sábio chamado Jesus. Seu comportamento era bom, e sabe-se que era uma pessoa de virtudes. Muitos dentre os judeus e de outras nações tornaram-se seus discípulos. Pilatos condenou-o à crucificação e à morte. E aqueles que haviam sido seus discípulos não deixaram de segui-lo. Eles relataram que ele lhes havia aparecido três dias depois da crucificação e que ele estava vivo [...] talvez ele fosse o Messias, sobre o qual os profetas relatavam maravilhas” – (GEISLER, Norman, Enciclopédia de Apologética – Vida 2002, pp.449)

Após apresentar essa versão do texto de Josefo, em outro livro Geisler explica sua preferência por essa leitura:

“Existe uma versão dessa citação na qual Josefo afirma que Jesus era o Messias, mas a maioria dos estudiosos acredita que os cristãos mudaram a citação para que fosse lida dessa maneira. De acordo com Orígenes, em dos pais da igreja nascido no século II, Josefo não era cristão. Desse modo, é improvável que ele pudesse afirmar que Jesus era o Messias. A versão que citamos aqui vem de um texto árabe que, acredita-se, não foi corrompido” – (GEISLER, Norman, Não tenho fé suficiente para ser ateu – Vida, 2006, p.227)


Nesse momento temos que fazer uma importante pergunta: “O que ganharia esse judeu em mencionar a figura de Jesus?”. Considerando o fato de que era financiado por Roma, era de se esperar que sua visão pudesse ter sido comprada pelos romanos e sua história tenha cedido em alguns lugares à tentação de ser conscientemente impreciso o que o levou a ganhar a fama de mentiroso inveterado.

Contudo, aos olhos de Roma, essa nova “religião” tinha claras tendências de ser facciosa ao Império em função do seu estranho conjunto de doutrinas e sua objetiva recusa de adorar ou a César ou aos deuses romanos. Com isso, era de se esperar que ele suprimisse qualquer evento, fato ou personagem que pudesse o colocar em oposição com seus patrocinadores.

Portanto, é evidente que não haveria qualquer ganho para Josefo em apresentar a pessoa de Jesus, e talvez, por essa mesma razão, é que ele tenha escrito tão pouco a seu respeito. Mas, ainda assim, com o testemunho de Josefo, nós podemos reconhecer algumas das características de Cristo e sua história, tal como contada pelos evangelistas:

(1) Jesus foi um homem considerado sábio; (2) de bom comportamento e virtudes; (3) tinha um irmão chamado Tiago (4) teve muitos seguidores de diferentes nacionalidades; (5) foi crucificado por Pilatos; (6) por crucificação; (7) nem por isso seus discípulos o abandonaram; (8) eles relataram a ressureição de Cristo após três dias; (9) além de uma possível relação com o Messias anunciado pelas escrituras hebraicas.

Fortunato Barbosa do R.

Veja o vídeo para complementar o estudo:
http://g1.globo.com/Noticias/0,,MUL730858-9982,00-EXISTENCIA+HISTORICA+DE+JESUS+CRISTO+E+INQUESTIONAVEL+AFIRMAM+ESPECIALISTAS.html

4 comentários:

Ivani Medina disse...

Somente na mente de crentes e em benefício da própria fé, a história da origem do cristianismo pode ser acolhida como se apresenta. É contada no Novo Testamento, e apenas nele existe. Portanto, nada há de científico no seu acatamento. Trata-se de um ato de imposição política.
Toda essa conversa de “Cornélio Tácito, respeitado historiador romano do primeiro século, escreveu: “O nome [cristão] deriva-se de Cristo, a quem o procurador Pôncio Pilatos executou no reinado de Tibério.” Suetônio e Plínio, o Jovem, outros escritores romanos daquela época, também se referiram a Cristo. Além disso, Flávio Josefo, historiador judeu do primeiro século, escreveu sobre Tiago, a quem identificou como “o irmão de Jesus, que era chamado Cristo”. Não vale meio centavo furado. Por quê?
Porque, inicialmente, nenhum dos primeiros apologistas cristãos se referiu a nenhuma dessas “provas” fabricadas posteriormente ou a partir do século IV. Por quê?
Porque o cristianismo surgiu no século II e a “história” contada e situada na Palestina no século I é pura invenção. Oh! Não pode ser! Pode sim. Lembra de que nos primórdios havia uma contenda entre os cristãos? Pois então, Uns queriam um Cristo espiritual e outros um Cristo de carne e osso, o “histórico”. Os primeiros aspiravam pelo aprimoramento espiritual do indivíduo na luta contra o judaísmo. Os segundos estavam determinados a vencer e subjugar o judaísmo. Para tanto necessitavam de uma ligação mais convincente com a cultura judaica. Mais por quê?
Porque nos primeiros séculos o proselitismo judaico avançava perigosamente sobre a cultura greco-romana e o número de convertidos plenos crescia de forma preocupante. A pressão de certa camada das classes altas pressionava o governo a tomar uma atitude e assim foi feito. O imperador Adriano (117-138) proibiu a circuncisão em todo o Império, um dos principais motivos da guerra contra os judeus, de 132.
A conversão ao judaísmo seguia passos obrigatórios que levavam tempo. No final do processo o prosélito era circuncidado e somente a partir daí era aceito como membro da nação de Israel. Isto significa que a aceitação dos pagãos, em especial gregos e romanos, pelo judaísmo era ampla e perigosa para a cultura dominante na época. Todavia, o sucessor de Adriano, Antonino Pio (138-161), relaxou um pouco as medidas antijudaicas, mas manteve a proibição da circuncisão sob pena de morte somente para não judeus. Daí uma legião de prosélitos incircuncisos, que jamais seria aceita na nação de Israel, recebe atenção de uma nova religião alegadamente surgida de uma seita judaica que havia abolido a circuncisão e a rigidez mosaica abrindo concorrência com o judaísmo real.
Detalhe: quem eram esses divulgadores ou propagandistas dessa nova religião?
Judeus reformistas insatisfeitos com o judaísmo tradicional? Não. Eram gregos na maioria e uns poucos latinos, os mais incomodados com o proselitismo judaico, a liderar tal iniciativa.
É só pensar um pouquinho: pelo teor das suas mensagens, Jesus, precisava ser judeu? Não. Por que os fariseus (defensores do judaísmo ortodoxo) foram tão esculachados pelos evangelhos e os judeus em geral pela história cristã? Por que a crucificação do personagem Jesus foi creditada aos malévolos judeus? Essa é uma história de ódio. Engana-se quem quiser. O Jesus histórico é uma invenção da ala vitoriosa do cristianismo primitivo na ânsia de submeter o judaísmo e a nossa cultura não quer que isto apareça se não ela se ferra. Pronto.

Anderson Fábio disse...

Cara, você desconhece e muito de história. No início do século não havia uma preocupação com indivíduos como você que desacreditam na historicidade de Jesus. Com o tempo foi-se necessário analisar nos anais da história sobre o assunto, onde foi encontrado esses anúncios ora mencionados no artigo.

Sobre a questão da batalha entre cristianismo e gmosticismo. A seita da gnose começou a especular a natureza de Cristo, pois não acreditavam que a natureza material era boa e que, assim sendo, Jesus não teria se manifestado em carne, mas em espírito. Essa doutrina caiu por terra há muito tempo.

E em último lugar, você dizer que não necessitava que Jesus fosse judeu só mostra sua pequena compreensão do cristianismo. "Jesus, precisava ser judeu?" Com certeza!!!! O messias prometido no antigo testamento deveria ser judeu, da tribo de Judá e da linhagem de Davi. Só esta parte já mostra que você critica algo que desconhece. Procure conhecer mais sobre o assunto, verifique suas fontes e pense com raciocínio correto, para assim debatermos de forma coerente. Pois só falar suas opiniões e não trazer nenhum embasamento sólido só soa pra mim como blá blá blá não creio!

Grande abraço!

Ivani Medina disse...

Quando iniciei minha pesquisa diletante acerca da origem do cristianismo, eu já tinha uma ideia formada que pode parecer esdrúxula: a perseguição aos judeus. Portanto, nada de Bíblia, teologia e história das religiões. Todos os que haviam explorado esse caminho haviam chegado à conclusão alguma. Contidos num cercadinho intelectual, no máximo, sabiam que o que se pensava saber não era verdade. É isso o que a nossa cultura espera de nós, pois não tolera indiscrições. Como o mundo não havia parado para que o Novo Testamento fosse escrito, o que esse mesmo mundo poderia me contar a respeito dessa curiosidade histórica? Afinal, o que acontecia nos quatro primeiros séculos no mundo greco-romano, entre gregos, romanos e judeus? Ao comentar o livro “Jesus existiu ou não?”, de Bart D. Ehrman, exponho algumas das conclusões as quais cheguei e as quais o meio acadêmico de forma protecionista insiste ignorar.

http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/paguei-pra-ver

https://www.youtube.com/watch?v=juCACLom5IA

Anderson Fábio disse...

La vem com questionamentos próprios! Desacreditar os documentos citados e formular como impróprios só me faz rir. É fácil querer desacreditar tais documentos sob a falácia da não existência de Cristo. O seu texto é tão fraco em argumentos que ler um livro e achar que já conhece toda a verdade! Deixo um vídeo de um arqueólogo para dar um pouco mais de dados a você, e pesquise realmente isso é muito bom, mas não se deixe levar por seus conceitos, pois interpretar textos influenciados por pensamentos anti cristão só o levará a eisegese, como já tem levado!

Abraço!

https://www.youtube.com/watch?v=xxEJ_BZkARo

https://www.youtube.com/watch?v=zmkPJ8ympbU

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