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"Não toqueis nos meus ungidos"‏

 “Não toqueis em meus ungidos, não maltrateis meus profetas”. (Salmo 105.15 - King James).

No meu grupo de estudos teológicos em Monte Dourado, no Vale do Rio Jari (imponente tributário do majestoso Amazonas), alguém levantou esta questão de não tocar nos ungidos do Senhor, exatamente quando estudávamos Tito, no tocante ao caráter do obreiro. Comentei que o Salmo 105.15 vem sendo usado equivocadamente, para defender a intocabilidade de obreiros que esgrimem o texto para se colocarem acima da crítica. Eles são ungidos do Senhor e nada se lhes pode fazer, mesmo quando estão em pecado.

A questão é que, embora os termos hebraicos sejam mesmo “meshiahay” e “nabhyay” (“meus ungidos” e “meus profetas”), a alusão não é a uma classe de homens, como os profetas quando da profecia já institucionalizada, e sim a família eleita, os patriarcas até Jacó. O contexto é bem claro: todo o salmo alude a Israel no Egito. A ordem para não tocar nos ungidos e profetas do Senhor, no texto, foi dirigida às nações pagãs, por onde a família eleita peregrinou, antes de chegar ao Egito. São os episódios envolvendo Abraão, Isaque e Jacó em seus conflitos com seus vizinhos. Esses vizinhos deviam saber que não podiam tocar na família ungida, os ungidos e profetas de Deus. O episódio de Gênesis 20.1-7 elucida isso bem. Não se podia tocar em Sara. Em Gênesis 20.7 aparece, pela primeira vez, o termo “profeta” (nabhi) e é aplicado a Abrão. Os ungidos e profetas intocáveis e não maltratáveis, no texto, são os patriarcas. Não o pastor do século 21. Tanto é assim que à frente dos meshiahay e nabhyay, os ungidos e profetas, foi enviado “um homem, José, vendido como escravo” (v. 17). Ele salvou os ungidos e profetas da fome, ao introduzi-los no Egito.

Minha preocupação não é ser do contra nem mostrar que todo mundo está errado. É, isso sim, alertar para que textos bíblicos não sejam usados fora do contexto para provar teses para as quais eles não foram destinados. O pastor deve ser respeitado e obedecido (Hb 13.17). Quando faz seu trabalho bem feito deve receber salário em dobro. O “dupla honra” (diplês timês), de 1Timóteo 5.17, significa “dobrados honorários”, como bem traduziu a King James. O pastor há que ser respeitado e bem pago. Mas não está acima da crítica e não é intocável. A igreja local tem autoridade sobre ele, bem como tem autoridade sobre todos os crentes. Aliás, é preciso resgatar a autoridade da igreja. Ela não está subordinada a pessoas, mas ao seu Senhor, e seus membros estão debaixo da autoridade dela.

Mas o confortador é saber que Deus adverte ao mundo para não tocar nos que são seus, no seu povo. A igreja de Jesus se compõe de homens e mulheres que são os ungidos e os profetas de Deus neste mundo. Quando se encontrou com Saulo no caminho de Damasco, Jesus não lhe perguntou por que ele perseguia os membros da seita O Caminho. Perguntou-lhe: “Por que me persegues?” (At 9.5). A perseguição que Saulo fazia aos seguidores de Jesus era vista pelo Senhor como uma perseguição a ele, o Senhor. Ele toma as dores do seu povo. Se o pastor for perseguido por membros da igreja que se lembre que o Senhor Jesus vê e acerta as contas com aqueles membros da igreja. Eu, particularmente, sem ser o queridinho do Papai do céu, experimentei isso. Deixei com Deus para que cuidasse da situação. Ele cuidou. O tempo é o segundo melhor juiz dos eventos (o primeiro é Deus) e mostra quem é quem.

Pastores: lideremos nossos rebanhos, mas sejamos humildes para reconhecer nossos erros e evitemos nos colocarmos acima da crítica. Ovelhas: respeitem, amem e honrem seus pastores. Deem-lhes sustento digno. Pastores e ovelhas: o Senhor cuida de nós. Não briguemos. Entreguemos a Deus. Mundo: respeite o povo de Deus.

Isaltino Gomes Coelho Filho

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