Uma mulher cristã pode usar calça?

Você já deve ter visto pela televisão, cinema, jornais ou revistas (talvez pessoalmente), como em diferentes partes do mundo, e até do Brasil, as pessoas se vestem diferente. Não só se vestem como a sua alimentação, a arte e outros diversos hábitos e costumes também são diferentes ou, pelo menos, têm ênfases diferentes em variados aspectos.

Por que o mundo é assim? Por causa de um fenômeno inerente ao ser humano chamado cultura.

A cultura é definida como o conjunto de hábitos de um determinado grupo social, que envolve sua maneira de expressar a sua arte, sua linguagem, seu modo de vestir, sua alimentação, sua moral e até sua religião.

A cultura pode variar de povo para povo, Estado para Estado, cidade para cidade, família para família e até de pessoa para pessoa. Isto quer dizer que, ainda que uma pessoa esteja inserida num mesmo meio social que outras, pode sua cultura ter suas próprias características, ou seja, não ser totalmente igual às demais, não corresponder a 100% da cultura das outras em todos os seus nuances e aspectos. Por exemplo: Numa casa pode haver quem goste de ouvir música clássica enquanto outro pagode, bem como um que goste de arroz e feijão como comida do dia a dia, enquanto outro um x-burguer ou macarrão, etc. Também temos quem gosta de roupa da moda atual enquanto outro prefere sempre um mesmo estilo de roupa e tecido que usa desde que era jovem...

Se é possível constatar que no mundo atual, no mesmo instante, a cultura, em todos os seus aspectos, é diferente em diversos lugares e meios sociais, ou seja, que não há uma única cultura para o mundo inteiro, antes que ela é muito diversificada em seus elementos, o que dizer, então, de todas as expressões da cultura que já existiram desde o início da humanidade?

Por isso você já deve ter ouvido falar, ou mesmo falou, diversas vezes, que o mundo mudou bastante. Claro que o mundo que mudou não é o planeta terra. Ele continua o mesmo. O que mudou foi o modo de ser, agir, pensar e se comportar das pessoas, ou seja, a cultura. Vê-se, portanto, que a cultura é muito dinâmica, alterando-se a todo instante, o que ocorre desde o início da humanidade.

A própria Bíblia foi escrita por pessoas que tinham a sua própria cultura. Por isso que elas, mesmo inspiradas por Deus, se expressaram dentro das suas condições culturais. Você encontra na Bíblia diversas referências a tipos específicos de alimentação, vestimentas, músicas, artes e outros hábitos e costumes, alguns dos quais são, atualmente, completamente ausentes entre nós.

Surge, então, o grande desafio: Como considerar elementos da cultura moderna e brasileira à luz de um texto escrito há 2.000 anos para mais, num ambiente antigo, quase todo israelita / judaico? No ambiente social e cultural do Antigo e Novo Testamentos não havia calça jeans (nem a legue, a saia calça, nem havia sapato de salto fino ou sapatênis, nem tinha internet, celular, TV à cabo, cinema, shopping Center, rockin roll e futebol). Como avaliar milhares ou milhões de coisas que temos e que pertencem ao nosso século 21 d.C., coisas da cultura moderna, à luz das Escrituras para aceitá-las ou rejeitá-las?

A Bíblia “é” a Palavra de Deus para “todo” o tempo, o que passou, o que está passando e para os vindouros. Se a Bíblia não contém palavras ou faz literal e explícita referência de coisas que só vieram a existir depois do tempo em que foi ela foi escrita, não significa que estas coisas estão dispensadas de sua consideração.

Temos como certo, então, que a pergunta acima a respeito da calça como vestimenta adequada para mulheres cristãs é plenamente cabível e que nos compete encontrar nas Escrituras uma palavra a este respeito.

Mas se não está escrito “calça para mulheres” na Bíblia, como podemos avaliar sua adequabilidade às mulheres cristãs?

Ora, a Bíblia não fala de “calça para mulheres”, mas fala de princípios morais, de comportamento, de relacionamento e de convívio social, ou seja, a Bíblia fala de cultura.

A Bíblia não define a roupa (calça, saia, etc.), não obstante não se cala a respeito dela. O que ela fala então? Ela fala de princípios que devem ser guia e parâmetro de avaliação da cultura, o que inclui a roupa que devemos usar.

Se quero saber, portanto, se alguma expressão da cultura moderna, que antes não existia, mas que agora existe, pode ser assimilada pelo cristão, devo buscar nas Escrituras seus princípios norteadores, limitadores, parâmetros divinos para o ser humano e sua cultura.

Então vejamos: Quanto à vestimenta feminina, o que nos ensina a Bíblia? Que princípios ela nos ensina que deverão nos nortear em sua escolha?

Primeiro: Sobre esta matéria, a Bíblia nos ensina sobre a modéstia, a decência e o bom-senso:

“Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso...” (1 Tm 2.9).

Modéstia: Uma roupa modesta é aquela que não se serve para a ostentação daquele que a veste. O orgulho, a vaidade e a arrogância muitas vezes se dão a conhecer pelas roupas que usamos. Claro que não adianta colocar uma roupa modesta se, no coração, o orgulho e a vaidade continuam a existir. Não se resolve um problema no exterior, pois, caso assim fosse, haveria hipocrisia, algo que Jesus condenou veementemente. O correto é que um crente de coração modesto deve adequadamente usar roupas modestas. Estas dão expressão adequada a uma virtude essencial da mulher cristã: a modéstia.

Decência: Uma roupa é descente quando ela não facilita a libidinagem, ou seja, que a indução clara à sensualidade não é sua característica. É verdade que o cuidado com a sensualidade não é responsabilidade só do outro, com suas roupas, mas primeiramente nossa própria, na manutenção de uma mente pura. Isto não quer dizer que se alguém ficar nu o problema não é dele mas do outro que olhou e cobiçou sexualmente. Não é assim. Antes, é uma via de mão dupla: Eu respeito e me dou ao respeito. Não podemos esperar que uma mulher (ou homem) anule toda a sensualidade do seu corpo com a roupa que usa, uma vez que isto é impossível já que somos seres sexuados. Porém, determinadas roupas excedem em sua ênfase ao sexo, ou seja, facilitam ou despertam mais incisivamente a cobiça e a libidinagem. Estas roupas, sejam quais forem, devem ser evitadas.

Bom-senso: Significa agir com sabedoria e prudência. Vestir-se bem, portanto, não tem a ver só com marca e tecido, mas muito mais com adequação aos princípios bíblicos que possam aprovar determinada roupa.

Segundo: Outra passagem bíblica que estabelece princípios sobre a vestimenta é Dt 22.5:

“A mulher não usará roupa de homem, nem o homem, veste peculiar à mulher; porque qualquer que faz tais coisas é abominável ao SENHOR, teu Deus”.

Este texto é, para alguns, suficiente para rejeitar a calça comprida como roupa adequada às mulheres. Entendem que a calça é uma roupa masculina e que só recentemente ela passou a ser usada por mulheres.

Não obstante esta mudança cultural seja recente, isto não quer dizer que a interpretação deste texto, na forma acima entendida, esteja correta.

A intenção do texto é a proibição do travestimento, ou seja, que um homem ou uma mulher seja travesti, aquele(a) que se veste como pessoa do sexo oposto porque é homossexual (quanto à homossexualidade na Bíblia [clique aqui]).

É importante considerar que calça comprida é nome genérico a uma série de modelos e cortes de roupa, feitas tanto para o corpo masculino como para o corpo feminino. Então há calças para homens e calças para mulheres. Se um homem usar uma calça, cujo modelo do corte e costura foi preparado para um corpo feminino, isto não lhe cairá bem. O mesmo vale para as mulheres. Agora, se isto é feito intencionalmente porque um homem quer parecer mulher e vice-versa, porque querem expressar visivelmente sua homossexualidade, nisto resido a proibição do texto bíblico, em consonância a todo ensino bíblico a respeito da homossexualidade.

Podemos entender, então, que, pela vestimenta, o homem deve expressar sua masculinidade e a mulher sua feminilidade, que roupas que possam trazer confusão a este respeito devem ser evitadas.

A calça, nas mulheres, passa pelo crivo dos princípios da modéstia, da decência, do bom-senso e da expressão da feminilidade?

Segundo penso, há calças que podem ser adequadas como roupa para as mulheres cristãs, enquanto outras não (assim, como saias, vestidos, bermudas...). Depende do quê?

a) Que ela expresse a modéstia, a decência e a feminilidade das mulheres, pois, embora não seja a roupa que faz a mulher, ela deve condizer com o interior da mulher que a veste;

b) Do modelo e como este modelo veste no corpo de cada mulher. Talvez para uma sirva, para outra não, ou sirva para todas ou para nenhuma. O critério é a decência, e espera-se que a mulher cristã tenha bom senso segundo a Palavra de Deus para discernir se a decência segundo a ética cristã será preservada.

Pastor Alexandre