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Uma Igreja Aristocrática

Enquanto o rei canta alegremente, os súditos dançam conforme a música...

O pentecostalismo é bem brasileiro, apesar que o seu nascimento é californiano. Como movimento sociológico, o pentecostalismo abraçou a cultura nacional. Não há fenômeno protestante mais próximo da brasilidade do que o pentecostalismo. Isso é bom. É positivo quando uma igreja dialoga com a sua cultura.

Os membros das igrejas estão imersos em uma cultura e a sua igreja faz bem em adaptar a mensagem cristã à nova realidade. Mas a cultura brasileira tem vários pontos bem negativos e, infelizmente, o pentecostalismo também abraçou os vícios da cultura. É o processo do mundanismo que vem desde os primórdios do movimento no Brasil.

Recentemente o francês Dominique Strauss-Kahn, o todo-poderoso ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), foi preso na primeira classe de um voo que saia de Nova York com destino a Paris. Ele é acusado tentar estuprar a camareira do hotel de luxo onde estava hospedado em Times Square. Strauss-Kahn era um dos presidenciáveis para as eleições do próximo ano na França. Ele seria o nome do Partido Socialista contra o atual presidente Nicolas Sarkozy e Marine Le Pen. Strauss-Kahn passou uma semana na Rikers Island, uma prisão comum de Nova York. Strauss teve que pagar uma gorda fiança para passar os próximos dias em prisão domiciliar.

Você já imaginou se o estupro tivesse acontecido em um hotel de luxo de São Paulo? Você acha que aconteceria a mesma coisa? Ele seria preso pela Polícia Federal no Aeroporto de Guarulhos quando já estivesse sentado na primeira classe? Ele ficaria preso em uma das prisões de segurança máxima no interior do estado ou na sede da Polícia Federal em Brasília? Difícil acreditar! O motivo? Na sociedade aristocrática brasileira os mais poderosos são “mais iguais que outros” [1] perante a lei, usando aí um bordão do George Orwell, que mostrou os privilégios da casta de poder na antiga União Soviética (URSS) na ficção A Revolução dos Bichos.

No Brasil, é comum deputado furar a fila em aeroporto, autoridades civis e militares não serem barrados em blitz das rodovias federais e as famosas carteiradas: “Sabe com quem você está falando?”. Os abusos de autoridade são comuns, além dos vários privilégios que altos funcionários públicos recebem neste país. É a mentalidade aristocrática da cultura ibérica. Exemplo recente foram os passaportes diplomáticos para filhos e neto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É o patrimonialismo, ou seja, os bens públicos são tidos como privados.

O que isso tem a ver com a igreja?

Tudo! A mentalidade aristocrática está bem presente nas igrejas evangélicas. A hierarquia cristã, que de fato existe na Bíblia, não é de privilégios, mas sim de vários deveres. Em muitas igrejas que usam cadeiras no púlpito colocam a cadeira mais bonita para o pastor. Os periódicos denominacionais usam e abusam da imagem de seus líderes. Alguns pastores são tratados como verdadeiros reis. Infelizmente, essa realidade permeia várias comunidades evangélicas.

Sim, há muitos pastores humildes que muito sofrem para anunciar o Reino de Deus, mas existe na cúpula das denominações um grupo que vive em muitos privilégios em detrimento de outros líderes que sofrem. Ora, pastor é aquele que serve. A vida do ministro do Evangelho não é mesma de um ministro do Estado. Sim, que sejam dadas honras aos pastores, mas sem bajulação. Sim, que os pastores recebem o seu sustento, mas sem privilégios. Sim, que os pastores sejam amados pelas ovelhas, mas que os pastores também amem suas ovelhas.

Que história é essa que líderes denominacionais imponham cotas (leia-se “arrecadação de dinheiro”) para pastores de congregações? Que história é essa que congregações periféricas sustentem os projetos das mega-igrejas de sede? Que história é essa que parte significativa da arrecadação é destinada para uma sede? Que história é essa de ordenar pastores conforme o compromisso pessoal do candidato com o líder? Onde há base para essa centralização usurpadora das finanças de pequenas congregações? Quem lê, entenda!

Sim, já há alguns posts neste blog sobre o mesmo assunto. Mas é um absurdo que isso seja jogado para debaixo do tapete da indiferença. Na última sexta-feira ouvi que alguns pastores fazem “caixa dois” para não mandar todo o dinheiro para as suas respectivas sedes, pois se não fizerem isso não terão dinheiro para gastar na congregação local. Pode-se questionar a questão ética por trás do caixa dois, mas é necessário questionar também o excessivo encargo que é colocado sobre pequenas igrejas e pastores mais simples, que na maioria das vezes nem contestam! Eles só obedecem!

Sim, uma aristocracia manda que os outros façam o que eles não estão dispostos a fazer: sacrifício! O caciquismo é um GRANDE PECADO evangélico, especialmente pentecostal! O caciquismo é MUNDANISMO da pior espécie! Desculpe se o texto está amargo, mas é porque o assunto não é doce!

Gutierres Siqueira

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